terça-feira, 22 de junho de 2010

MOVIMENTOS NATIVISTAS

MOVIMENTOS NATIVISTAS E DE INDEPENDÊNCIA

Saiba a diferença que existe entre esses dois termos.

Nativismo representa movimentos de defesa da terra, sem qualquer caráter separatista. Havia nos nativos uma consciência de brasilidade, um sentimento de que o Brasil, embora fiel a Portugal, tinha diferenças na sua cultura e objetivos, que precisavam ser respeitadas pela coroa portuguesa. Cada vez mais os brasileiros se insurgiam contra a interferência dos reinóis (portugueses vindos do reino), que por sua vez não viam com bons olhos os nascidos no Brasil, nem tampouco aqueles que, embora vindos de Portugal, já tinham adquirido o jeito de viver da terra. Além do mais, após a restauração de Portugal, com a nova dinastia da Casa de Bragança, aumentou a pressão do reino contra as colônias, criando uma situação difícil e injusta a que os nativos, com consciência política já mais desenvolvida, relutavam em aceitar. 

Já os movimentos de Independência, ou separatistas, eram mais radicais e pretendiam, de fato, separar o Brasil de Portugal, criando um governo próprio e soberano, sem interferência externa de qualquer natureza. Embora os movimentos nativistas fossem acompanhados com uma certa tolerância e até mediação por parte dos Governadores, já as tentativas de independência foram rechaçadas com energia e violência, aplicando-se nos insurgentes sérios castigos, para evitar  que o exemplo fosse seguido por outros.

  • Os irmãos Beckman (ou Bequimão)
      Movimento ocorrido no Maranhão, em 1684 teve duas causas diferentes, embora entrelaçadas. De um lado, os Jesuítas protestavam contra a escravidão dos índios, o que prejudicava o seu trabalho de catequese. Inutilmente reclamaram, primeiro ao Governador e, depois, à própria Metrópole, cujas ordens chegavam ao Maranhão (então com um governo separado do restante do Brasil), mas simplesmente não eram cumpridas. Do outro havia a revolta da população em geral, inclusive dos escravocratas contra a Companhia de Comércio do Maranhão, fundada em 1682 e que recebeu da coroa o direito  de monopolizar a atividade comercial, controlando a exportação e a importação e estabelecendo os preços segundo seu próprio critério. Em troca, a Companhia se comprometeu a proceder a importação de 500 escravos africanos por ano, que seriam vendidos a um preço pré-estabelecido em contrato, de maneira a substituir, paulatinamente, o escravo índio pelo escravo negro. O monopólio foi estabelecido imediatamente, mas a importação de escravos não chegou a acontecer.
Aproveitando-se da fragilidade do governo local, um grupo de 60 homens armados, comandados pelos irmãos Manuel Beckman e Tomás Beckman, depõe o capitão-mor Baltazar Fernandes e reivindicam o fim imediato do monopólio. Todavia, logo depois, chega ao Maranhão o novo governador, Gomes Freire, que restabelece a ordem, e manda enforcar Manoel Beckman, enquanto que seu irmão foi exilado. A Companhia de Comércio foi extinta e a Companhia de Jesus voltou à sua atividade de catequese, mas os índios que participaram da guerra foram incorporados ao braço escravo.

  • Emboabas (1708)
      A Guerra dos Emboabas foi uma simples luta pela posse das minas, já que os paulistas, que primeiro haviam descoberto as jazidas de ouro de Sabará e se aprofundaram pela região à cata de novos tesouros, passaram a considerar uma intrusão a chegada de elementos estranhos para participar da lavra do minério. Portugueses ou não, esses invasores passaram a ser conhecidos por emboabas, nome que lhes foi dado pelos índios, por calçarem longas botas, à semelhança de pássaros com as pernas empenadas. No embate entre as duas forças prevalecia a lei do mais forte, já que o governador da capitania não tinha condições nem vontade política de mediar a questão, que se tornou grave com o massacre de trezentos paulistas, já rendidos e desarmados. Um novo encontro sangrento deveria ocorrer com a chegada, de São Paulo, da tropa comandada pelo bandeirante Amador Bueno da Veiga, mas, providencialmente, toma posse um novo governador e os emboabas consentem em assinar um tratado de paz.

  • A guerra dos mascates (1710)
      Era antiga a rivalidade entre os fazendeiros estabelecidos em Olinda, em franca decadência, e os ricos comerciantes portugueses residentes em Recife, apelidados desdenhosamente de mascates. Após a expulsão dos holandeses, caiu a venda de açucar, criando dificuldades aos ruralistas olindenses que, de mau grado, tiveram de se socorrer de empréstimos feitos pelos comerciantes recifenses. Embora Olinda permanecesse sede de Comarca, os habitantes de Recife pleitearam e conseguiram sua elevação à categoria de vila, ganhando autonomia administrativa e provocando sérios embaraços quando se discutia a fixação das divisas entre as duas localidades. Revoltados, os olindenses organizaram uma tropa de 20 mil homens, invadiram Recife, destituiram os mascates que representavam a autoridade da  vila e se assenhorearam dela. Após destruir o pelourinho, que simbolizada a autoridade local, nomearam para governador o bispo Alvares da Costa, enquando um chefe olindense mais ousado e radical, de nome Bernardo Vieira de Melo, chegava a propor a procamação de uma república independente. A ordem foi restabelecida com a chegada do novo governador, Felix José Machado. Arrefecidos os ânimos, o rei D.João V deu anistia geral aos revoltosos, encerrando a questão.

  • A Inconfidência Mineira (1789)
     Nascida de um sonho estudantil, sem consistência ideológica e, principalmente, sem uma estratégia militar definida, a insurreição de Minas estava, desde o início, destinada ao fracasso. Os jovens acadêmicos, recém chegados da França, onde haviam tomado contato com as novai ideias dos iluministas e enciclopedistas, acreditavam ser o Brasil um excelente campo para a aplicação prática dessas teses, tanto mais, que encontraram, nas Minas Gerais, um ambiente de agitação e revolta, pelo anúncio de novas medidas visando aumentar a arrecadação de impostos por cima das já exauridas minas de ouro. Unindo-se a outros elementos locais, e contando com a participação apaixonada e delirante de Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes, os conjurados mineiros passaram a atrair a adesão de outras regiões do país, fazendo-o de forma descuidada e sem planejamento, o que tornava quase impossível manter segredo do movimento que se organizava. Não bastasse isso, como costuma acontecer em movimentos revoltosos, acabou surgindo um traidor, na pessoa de Joaquim Silvério dos Reis que, devedor do fisco, acreditava que seus débitos seriam anistiados com o benefício da delação. O governador de Minas Gerais, visconde de Barbacena, tomou a primeira providência para abortar a revolta, suspendendo a derrama (imposto proporcional aos rendimentos e que, naquele momento, estava fixado em um quinto do ouro apurado). Em seguinda, mandou prender os inconfidentes, que, depois de um longo processo, foram condenados: doze deles receberam a pena de morte e os restantes a de degredo. Mais tarde, revista a sentença apenas Tiradentes teve sua pena de morte confirmada, sendo os demais degredados, menos Cláudio Manuel da Costa, que suicidou-se na prisão. Tiradentes foi enforcado em 21 de abril de 1782 no Rio de Janeiro, sendo esquartejado e suas partes expostas em Minas Gerais.

Obs: Degredo é a pena consistente em afastamento da terra natal por certo tempo ou por toda vida; pode ser entendido como exílio.

  • Conjuração dos Alfaiates (1798)
      O movimento que ficou conhecido como Conjuração dos Alfaiates teve lugar na Bahia e diferenciou-se dos demais por contar com uma participação ativa de pessoas humildes, sem posses, e que, simplesmente reivindicava igualdade social e racial. Nos outros movimentos, o povo entrou na história pela porta dos fundos. Participou da luta como assalariado ou como escravo, sem nela ter qualquer liderança, já que os interesses em jogo eram dos senhores da fortuna, ameaçados por razões circunstanciais. Nesse movimento  são os escravos negros, cujos nomes a história não registra, alfaiates, entre eles João de Deus e Manuel Faustino e soldados da milícia, como Dantas Torres e Gonzaga das Virgens. Infelizmente, como na Inconfidência Mineira, a Conjuração dos Alfaiates não contava com organização,  nem dinheiro, nem armas, nem estratégia para garantir o sucesso da empreitada. Como ajuda externa, apenas o apoio de maçons e partidários de idéias liberais, destacando-se entre estes a figura de Cipriano Barata.  Cipriano José Barata de Almeida (esse era seu nome completo), estudara na Universidade de Coimbra, onde se formou em filosofia e cirurgia, defendendo com vigor ideais de liberdade, sonhando com a formação de uma república no Brasil.
Os conspiradores, quase todos eles negros ou mulatos, sairam pelas ruas afixando papéis manuscritos (não havia imprensa no Brasil) e anunciando abertamente um movimento pela redenção da raça e pelos direitos à igualdade e liberdade. Como era de se esperar, a repressão foi imediata e violenta, com a prisão e enforcamento dos principais envolvidos. Os que menos participaram, foram banidos, condenados ao exílio, e somente os homens mais cultos e influentes, escudados na maçonaria,  conseguiram escapar sem nenhum arranhão. Cipriano Barata foi um deles e, mais tarde, teve participação importante, como jornalista e político, no período que se seguiu à Proclamação da Independência.

  • Uma República em Pernambuco
     Após a Revolução Francesa, ocorrida em 1789, o absolutismo das monarquias passou a ser ameaçado pelos novos ideais de liberdade pregados mundo afora, o que obrigou os reis a se juntarem em aliança para combater a perniciosa divulgação de tais conceitos. Com a repressão a tais idéias subversivas à ordem vigente, os propagandistas dos ideais revolucionários passaram a se reunir em sociedades secretas, como a maçonaria (também conhecidos por pedreiros livres), os quais, principalmente no Brasil, tiveram papel ativo não só na organização de movimentos como na participação dos governos. Foram uma das alavancas que impulsionou a Proclamação da Independência e foram um dos pivôs da crise que levou mais tarde à Proclamação da República. Por volta de 1601 já se tem notícia da formação das primeiras lojas maçônicas no Brasil, sendo um dos núcleos importantes a cidade de Recife, devido à influência econômica que Pernambuco ainda exercia, como tradicional produtor de cana de açucar. Nessa cidade fundou-se a loja maçônica denominada Areópago de Itambé, da qual participavam, entre outros, os irmãos Cavalcanti, o padre Câmara, Miguelito e João Ribeiro.
Em 1808, com a invasão de Portugal pelas tropas de Napoleão Bonaparte, a família real e toda a nobreza veio a se refugiar no Brasil, enquanto, na Europa, patriotas portugueses, auxiliados pela Inglaterra, lutavam pela expulsão dos invasores. Para dar consistência ao governo na nova terra, o Príncipe Regente viu-se na necessidade de tomar algumas medidas politico-administrativas: primeiro, declarou abertos os portos brasileiros a todas as nações do mundo (leia-se Inglaterra); segundo, declarou guerra à França e mandou invadir a Guiana Francesa, ao norte do Brasil, onde havia um pequeno destacamento militar que, de pronto, se rendeu; por fim (e esta foi a medida mais importante) criou o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (lugar onde se vende mercadorias).  O Brasil deixava, assim, de ser colônia para se tornar um participante do reino, na pessoa do Príncipe, representado a casa real.

Essa mudança de status teve grande influência na formação de nossa nacionalidade, mas não impediu que, em 1917 eclodisse um movimento revolucionário em Pernambuco, alimentado pela grave crise econômica por que passavam os fazendeiros, a cujas reivindicações o governo central fazia ouvidos de mercador. Vinham à frente da revolta, além do padre Miguelito, já citado anteriormente, também Antônio Carlos de Andrade e Silva (irmão de José Bonifácio) e Leão Coroado. No princípio, tudo bem. Os portugueses, surpreendidos, fugiram e as tropas se dispersaram, deixando a cidade livre. Em seguida, o governador foi deposto e os revolucionários, animados, tentaram instalar uma República, baseada nos ideais da Revolução Francesa, conseguindo até a adesão de outras províncias vizinhas. Isso, até que  veio a repressão, violenta como acontecia em tais ocasiões. O movimento foi contido e parte da liderança (menos Antônio Carlos...) foi executada exemplarmente e o povo, mais uma vez, serviu de bucha para canhão: uma multidão morreu nas ruas, em luta contra as tropas portuguesas.

Este foi, ao que se tem registro, o último intento fracassado para obter a nossa Independência. O próximo aconterá em 1822, com o Principe D, Pedro à frente e, dessa vez, o país conseguiu de fato libertar-se de Portugal. Mas essa é outra história, que será contada na próxima postagem.

Bom Estudooooooooooo

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